“O pensamento lógico puro não pode nos proporcionar qualquer conhecimento de mundo empírico; todo o conhecimento da realidade parte da experiência e nela termina. As proposições a que se chega por meios lógicos exclusivamente são completamente desprovidos de realidade.”
Albert Einstein
Blaise Pascal (1623 - 1662), notável matemático, filósofo, físico, teólogo e cientista, nascido em 19 de junho de 1623, em Clermont-Ferrand, a cerca de 400 km de Paris, na região administrativa de Auvergne, uma das 26 existentes, no coração da França. Uma terra de contrastes e de natureza exuberante, Auvergne exibe cadeias de montanhas vulcânicas, desfiladeiros profundos, vales verdejantes, rios, planícies, florestas e fontes naturais. Filho de Étienne Pascal (1588 – 1651), presidente da Corte de Apelação, e de Antoinette Bégon, Blaise Pascal revelou seu gênio precoce, segundo sua irmã mais velha e biógrafa, Gilberte Périer, através de um espírito investigativo e perspicaz, não somente por suas respostas a certas questões, mas principalmente pelas questões que ele próprio propunha sobre a natureza das coisas. (1)
Contemporâneo de René Descartes (1596 – 1650) e do Cardeal de Richelieu (1585 – 1642), Blaise Pascal viveu em um mundo em que imperavam a superstição e a intolerância religiosa, as quais combateu durante toda sua vida, através de uma linha de raciocínio científico e de uma lógica impecáveis. Na esfera política, reinava Luís XIII de Bourbon (1601 – 1643), chamado O Justo, que, auxiliado por seu poderoso primeiro ministro Richelieu, a quem sua imagem permanece inseparavelmente atrelada, promoveu a reorientação da monarquia francesa para um modelo absolutista.(2) À medida que a monarquia absolutista se firmava, a administração pública se profissionalizava, preferindo o rei dividir o poder com funcionários graduados do que com outros nobres, surgindo assim uma nova classe social, a burguesia.
Étienne Pascal, homem culto e respeitado, fazia parte desta nova classe de funcionários do reino, sendo nomeado, em 15 de setembro de 1639, administrador da província da Normandia, região litorânea ao noroeste da França, separada da Inglaterra, a quem pertenceu em épocas anteriores, pelo Canal da Mancha.(3) Fixando-se com a família nesta região, com o cargo de Intendente Real de Taxas e Impostos, semelhante a uma função atual de Secretário da Receita, era encarregado por determinar e arrecadar impostos dos comerciantes e proprietários de terras, representando localmente a autoridade e poder do próprio monarca.
O talento de Blaise Pascal ficou evidente desde sua infância, pela facilidade natural que tinha em ajudar seu pai nos cálculos dos impostos. Apesar de ter demonstrado precocemente seu interesse pela matemática, área do conhecimento em que mais se destacou, sendo considerado dentro desta área não apenas um grande matemático, mas responsável por estruturar certos campos que inexistiam antes dele, Blaise Pascal viu-se instigado por seu pai a dedicar-se primeiramente ao estudo das línguas clássicas. Tendo perdido sua mãe aos três anos de idade e sendo o único filho do sexo masculino de uma família composta ainda por três irmãs (uma das quais também faleceu durante seus primeiros anos de vida), seu pai Étienne apegou-se muito a ele, assumindo para si a responsabilidade por sua instrução. Pascal nunca freqüentou escolas, nem mesmo quando sua família mudou-se para Paris, em 1631. Étienne, ele próprio um matemático, encarava com certa relutância a predileção de Pascal pela matemática, área a qual, em sua concepção de educação, considerava como avançada e que deveria ser alvo de estudos posteriores. Desejando que Blaise deixasse para dedicar-se a ela mais tardiamente, prometia-lhe que a ensinaria quando ele dominasse o grego e o latim.
Além das línguas, Étienne Pascal ensinava ao filho os princípios básicos sobre as leis da natureza e sobre as técnicas humanas. Isto aguçava a curiosidade do menino, que sempre queria saber a razão de todas as coisas e não se satisfazia diante de explicações incompletas ou superficiais. Quando se deparava com uma explicação que considerasse insuficiente, passava a pesquisar por conta própria até encontrar uma resposta satisfatória e, diante de um problema, não o largava até resolvê-lo plenamente. Suas experiências sobre os sons levaram-no a escrever um pequeno ensaio, aos onze anos de idade, considerado de nível elevado para sua idade.(1)