Apresentação


Este blog destina-se a profissionais, estudantes e demais interessados nas áreas da Ciência da Informação, Arquitetura da Informação, Ciência da Computação, Tecnologia da Informação e História da Ciência, constituindo-se como um espaço para a publicação e discussão de temas que contribuam para a compreensão e desenvolvimento destas áreas

sábado, 8 de maio de 2010

A Segunda Guerra Mundial - Antecedentes

Alguns historiadores consideram que a Segunda Guerra Mundial tenha sido nada mais que a continuação da Primeira que, ao seu término, não conseguiu trazer a solução para nenhum dos problemas que a provocaram. Assim, não teria havido de fato uma Segunda Guerra, mas apenas uma trégua entre dois momentos de uma mesma guerra. 

Por este motivo, achamos interessante incluirmos um capítulo dedicado a Primeira Guerra Mundial, como ponte para o entendimento das tensões e motivações que, 21 anos após o seu término, culminaram no início, ou recomeço, de um novo conflito mundial. Este texto foi disponibilizado na postagem anterior. 

No caso da Segunda Guerra Mundial, dividimos o texto em três partes:
- Antecedentes;
- A Europa caminha para a Guerra, e
- Desenrolar e Término.

 Publicamos agora, o primeiro deste três capítulos.

Apesar de não poder ser considerado um especialista neste assunto, a intenção foi apresentar um texto que possa levar o leitor o mais próximo possível do clima de tensão e incerteza que permeava aqueles dias que antecederam a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Este trabalho foi embasado em extensas pesquisas bibliográficas e focado nas relações e características pessoais dos seus principais atores. Entretanto, pela abrangência do tema e pelos objetivos desta publicação, talvez fatos relevantes tenham sido omitidos. Deste modo, contribuições serão muito bem-vindas.

A Segunda Guerra Mundial - Antecedentes
A arte de vencer é a arte de ser ora audacioso, ora prudente.
(Napoleão Bonaparte)

Nestas últimas duas décadas, diversos autores nos ofereceram oportunidades de reflexão sobre as circunstâncias que vieram a culminar em uma guerra de dimensões excepcionais em termos de destruição, ultrapassando em muito as perdas causadas pela Guerra dos Trinta Anos ou pela Grande Guerra.

Segundo Winston Churchill (1874 – 1965), considerado por muitos o principal responsável pela vitória da Inglaterra na Segunda Guerra Mundial, ao tomar conhecimento da consulta pública realizada pelo presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt (1882 – 1945), para obter sugestões acerca do nome que deveria ser dado à Guerra, prontamente respondeu:

"A Guerra Desnecessária."
"Jamais houve uma guerra tão fácil de parar como aquela que apenas destruía o que restara do mundo após o conflito anterior."(234)
 
Certos eventos têm influência bastante para alterarem o curso da história de um povo ou mesmo de toda a humanidade. Este, certamente, foi o caso da Segunda Guerra Mundial. Se, ao seu final, o resultado tivesse sido diferente, possivelmente, a vida de boa parte de todos os que vivem ou viveram desde então teria seu rumo significativamente alterado. Grande parte dos historiadores compartilham a opinião de que apesar do forte impacto em nossas vidas, a maioria das pessoas têm uma visão simplista das causas e possíveis desdobramentos deste conflito, como é o caso de Eric J. Hobsbawm, respeitável cientista político.

"As origens da Segunda Guerra Mundial produziram uma literatura histórica incomparavelmente menor sobre suas causas do que as da Primeira Guerra, e por um motivo óbvio. Com as mais raras exceções, nenhum historiador sério jamais duvidou de que a Alemanha, Japão e (mais hesitante) a Itália foram os agressores. Os Estados arrastados à guerra contra os três, capitalistas ou socialistas, não queriam o conflito, e a maioria fez o que pôde para evitá-lo. Em termos mais simples, a pergunta sobre quem ou o que causou a Segunda Guerra Mundial pode ser respondida em duas palavras: Adolf Hitler."

Entretanto, como o próprio Hobsbawm afirma, logo em seguida ao texto acima, "as respostas a (estas) perguntas históricas não são, claro, tão simples".(240) E, apesar da importância e da abrangência deste evento, assim como da farta literatura a seu respeito, nos sentimos tentados a afirmar que o seu início e desenrolar tomaram caminhos e proporções não imaginados e que o mundo, pego de surpresa, foi profundamente alterado sem que as pessoas que nele viviam se dessem conta do que estavam vivenciando ou pudessem conscientemente controlar o seu curso ou prever suas conseqüências.

Em A Lógica do Cisne Negro, livro publicado originalmente em 2007, o escritor libanês Nassim Nicholas Taleb (1960 - ), ao discorrer sobre a dinâmica da incerteza presente nos mecanismos da história, intuiu que, apesar de podermos "supor que as pessoas que viveram o começo da Segunda Guerra Mundial tiveram alguma noção de que algo grandioso estava acontecendo", de forma alguma isto deve ter ocorrido. (233)

Taleb, também cita William L. Shirer (194- 1993), jornalista e escritor norte-americano, mais conhecido por seu livro Ascensão e queda do Terceiro Reich, que descreve em outro livro de sua autoria, o Diário de Berlim, 1934-1941, informações esclarecedoras sobre tal estado de espírito presente nos momentos que antecederam o início e o desenrolar da Segunda Guerra Mundial, ressaltando a crença francesa de que Hitler era apenas um fenômeno transitório, resultando provavelmente na falta de preparo que determinou a rápida e subsequente capitulação da França. "Em nenhum momento a extensão real da devastação foi considerada possível." Shirer oferece uma perspectiva incomum em sua narrativa ao descrever os eventos enquanto aconteciam e não depois, escrevendo "propositadamente sem que soubesse o que aconteceria em seguida, quando a informação a que tinha acesso ainda não tinha sido corrompida pelos desenlaces posteriores."(233)

Aparentemente, a mente humana tem a necessidade de criar explicações e produzir sentido para quase tudo a sua volta, sendo a idéia da imprevisibilidade algo difícil de ser aceito e, em geral, algo a ser naturalmente combatido antes de ser analisado. A abordagem retrospectiva de fatos, cotidianos ou históricos, traz em si esta distorção e a História tem sido, com freqüência, vítima desta característica humana, parecendo bem mais coerente e organizada nos livros de história do que de fato deve ter sido na realidade. Shirer, com seu método narrativo, nos oferece novas perspectivas históricas sem a plausibilidade inevitável apresentada pela maioria dos historiadores. Esta idéia é corroborada por Taleb, conforme extrato de seu livro, transcrito abaixo:

"Fui atingido por uma crença que nunca mais me abandonou de que somos apenas uma grande máquina de olhar para trás, e que os humanos são ótimos em se auto-enganarem...
Eventos apresentam-se a nós de forma distorcida. Considere a natureza da informação: dos milhares, talvez até milhões, de pequenos fatos que prevalecem antes que um evento ocorra, apenas um número muito pequeno será considerado relevante depois do ocorrido para sua compreensão do que aconteceu. Por sua memória ser limitada e filtrada, você estará inclinado a se lembrar dos dados que se encaixam posteriormente com os fatos..." *(233)

Reforçando a posição de Shirer, Taleb traz ainda em seu texto a observação do historiador escocês Niall Ferguson (1964 - ) de que, "apesar de todos os relatos tradicionais do período que precedeu a Grande Guerra descreverem "tensões crescentes" e "crises cada vez piores", o conflito foi uma surpresa. Somente em retrospecto é que a guerra foi vista como inevitável por historiadores que olhavam para trás. Ferguson utilizou um argumento empírico inteligente para defender sua posição: ele observou os valores dos títulos imperiais, que normalmente incluem as expectativas dos investidores em relação às necessidades de financiamento do governo, cujo valor cai em períodos em que conflitos são esperados, pois guerras geram déficits graves. Mas o valor dos títulos não refletia a expectativa de uma guerra." (233)

Partindo dos pontos de vista descritos anteriormente e tentando conciliar um texto não muito extenso, mas com detalhes suficientes para não prejudicar o entendimento de como os eventos se desenrolaram, abordaremos em seguida, as questões e posições do período que antecedeu o início da Segunda Guerra e os principais envolvidos no cenário político europeu de então, que mais se parecia a um tabuleiro de xadrez, com diversas estratégias em andamento e possibilidades de desdobramento totalmente em aberto.

Os anos posteriores à Grande Guerra foram de insegurança e crises, que sucediam-se uma após a outra. Segundo Patrick J. Buchanan (1938 - ), respeitável autor e comentarista político norte-americano, durante a década de 1930, os ingleses enfrentavam um conflito entre defender seus interesses ou seus princípios, conforme descrito em seu livro "Churchill, Hitler e a Guerra Desnecessária":

"... Chamberlain e Halifax consideravam Versalhes um erro crasso, posto que negara aos alemães e austríacos o direito de autodeterminação, concedido aos poloneses e tchecos.
...Julgaram que os alemães que viviam sob domínio tcheco e polonês, em 1938, mereciam o mesmo direito de autodeterminação assegurado aos poloneses e tchecos que se encontravam sob governo alemão a austro-húngaro, em 1919. Achavam que, atendendo às justas reclamações da Alemanha e conduzindo-a de volta à Europa como grande potência e com direitos iguais, abririam o caminho em direção à paz que desejavam construir. O problema que tinham era o seguinte: se ajudassem Hitler a reunir dentro do Reich todos os alemães que quisessem fazer parte dele, estariam favorecendo o retorno da Alemanha ao que fora antes de 1914, a potência dominante da Europa. Só que agora o seu governante era Adolf Hitler, que poderia se transformar num agressor, como denotavam suas palavras no livro Mein Kampf, e se tornar uma ameaça ainda mais grave do que o Kaiser, que quase conquistou a Europa.
... Mas autodeterminação dos alemães significava a anexação da Áustria e a amputação de populações germânicas e territórios ancestrais de Polônia e Tchecoslováquia, que eram aliadas da França. Alguns bretões, como Churchill, pensavam que a Inglaterra deveria entrar em guerra, se fosse necessário, para impedir a restauração de um Reich bismarckiano na Europa central que abarcasse a Áustria. Eles julgavam que a segurança européia estava acima de qualquer reclamação germânica acerca de territórios mutilados e populações perdidas." (234)

Iniciemos então esta nossa narrativa pela data de 7 de março de 1936, quando, segundo alguns historiadores, terminou o período do pós-guerra, com a reocupação militar, por Adolf Hitler (1889 – 1945), da Renânia, região de língua alemã situada à margem esquerda do Rio Reno, que havia sido desmilitarizada e colocada sob a supervisão da França desde o final da Primeira Guerra Mundial. Apesar de violar acintosamente os Tratados de Versalhes e de Locarno, que determinavam a desmilitarização da Renânia e de uma faixa de 50 km de largura na margem direita do Reno, Hitler, contando com o apoio incontestável da população de origem germânica e com uma recepção entusiasmada de suas tropas ao chegarem à Renânia, não enfrentou qualquer reação que pudesse ser considerada enérgica ou que mostrasse alguma disposição, da França ou da Inglaterra, de fazerem valer aqueles acordos.
 
* Nota do Autor. Atualmente aceita-se como valores médios, que o cérebro humano capta cerca de 108 bytes de informação por segundo, mas somente 101 ou 102 são conscientizados, após a passagem por diversos filtros mentais.

Arquivo com o texto completo para consulta e download:
 
BlogBlogs.Com.Br