"“Aquele que controla o passado comanda o futuro. Aquele que comanda o futuro conquista o passado.”
George Orwell
O domínio da tecnologia, desde tempos imemoriais até os dias atuais, tem sido sinônimo de poder, permitindo à espécie humana controlar a natureza e seus semelhantes. Para o homem das cavernas, o controle do fogo ou a habilidade para construir a ponta da lança com uma pedra afiada, poderia significar a diferença entre viver ou morrer para todo seu grupo. A história tem mostrado que ligeiras vantagens tecnológicas podem representar a distância entre o domínio ou a submissão de povos inteiros. Por outro lado, para ter um real impacto e importância para o ser humano, a tecnologia precisa sempre servir à uma finalidade social. Deste modo, quando a tecnologia em questão aplica-se em quebrar ou reduzir barreiras de tempo e espaço, como é o caso dos meios de transporte e de comunicação, este impacto é significativamente maior, criando pequenas revoluções, atingindo todas as áreas de atividades e negócios, gerando enormes oportunidades de mudança e desenvolvimento. Certamente foram marcos na civilização a introdução da roda, do estribo, das velas navais, das locomotivas e estradas de ferro, do automóvel e do avião, assim como o foram a escrita, a imprensa, o telégrafo, o rádio, a televisão, o computador e, certamente, também será no século 21, a Internet.
Segundo a visão da Sloan Fundation, prefaciando o livro Crystal Fire(1),
“...tecnologia é a aplicação da ciência, engenharia e organizações industriais para criar um mundo mais apropriado ao ser humano. Isto tornou possível, nas nações desenvolvidas, um padrão de vida inconcebível há um século atrás. O processo, entretanto, não é isento de tensões; por sua natureza, a tecnologia provoca mudanças na sociedade e agride convenções. Afeta praticamente todos os aspectos das atividades humanas: instituições públicas e privadas, sistemas econômicos, redes de comunicação, estruturas políticas, associações internacionais, a organização das sociedades, e as condições da vida humana. Este efeito não ocorre apenas em um sentido; assim como a tecnologia muda a sociedade, também as estruturas sociais, atitudes e demais características da vida humana afetam a tecnologia. Mas, talvez porque a tecnologia seja tão rapidamente e completamente assimilada, a profunda interação desta com a sociedade, na história moderna, não venha sendo suficientemente reconhecida.”
O entendimento sobre a origem, desenvolvimento e impacto em nossas vidas das tecnologias que marcaram tão profundamente o século 20 e desenharam a realidade como a percebemos no início deste novo século, podem fornecer uma perspectiva do presente e subsídios que permitam melhores opções de futuro. A história destas invenções e dos esforços despendidos em sua criação, abordando tanto as dimensões técnicas como humanas, certamente, podem contribuir neste sentido.
Podemos dividir e classificar os períodos históricos, em relação ao desenvolvimento da tecnologia da informação, basicamente em quatro etapas distintas: a era pré-mecanicista; a era dos dispositivos mecânicos; a era dos dispositivos eletromecânicos e a era dos dispositivos eletrônicos.
A primeira etapa desta jornada evolutiva pode ser considerada como extendendo-se desde o ano 3.000a.C., com o surgimento da primeira palavra escrita, até 1.450d.C., ano da introdução no ocidente do processo de impressão com tipos móveis metálicos, pelo alemão Johann Gutemberg (1387 - 1468)(2). Este período caracterizou-se, de início, pela comunicação humana baseada unicamente na fala ou através de sinais e símbolos simples. Os sistemas de numeração e a matemática surgiram e evoluíram em conjunto com a evolução da escrita.
A era dos dispositivos mecânicos extendeu-se desde Gutemberg até a invenção da tabuladora eletromecânica de cartões perfurados criada por Herman Hollerith (1860 - 1929), em 1887. Por último, podemos situar o início da utilização de dispositivos eletrônicos com a entrada em operação do ENIAC, em fevereiro de 1946.
A história da ciência da computação, e por consequência da tecnologia da informação, também estão intimamente interligadas à história da matemática, algumas vezes até mesmo confundindo-se com esta, cujo desenvolvimento ocorreu em paralelo entre diversas civilizações como a japonesa, chinesa, hindu, egípcia, grega e árabe, e mesmo nas culturas pré-colombianas das Américas Central e do Sul. Entretanto, nem sempre existiu um grau de identidade que aproximasse estas diversas abordagens, ocorrendo por vezes significativas diferenças de notação e formalismo. O modo como estamos acostumados atualmente, a raciocinar e a representar números e cálculos matemáticos traz forte herança das culturas hindu, grega e árabe.