Apresentação


Este blog destina-se a profissionais, estudantes e demais interessados nas áreas da Ciência da Informação, Arquitetura da Informação, Ciência da Computação, Tecnologia da Informação e História da Ciência, constituindo-se como um espaço para a publicação e discussão de temas que contribuam para a compreensão e desenvolvimento destas áreas

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Um tributo à Irena Sendler


Hoje, 06 de agosto de 2010, completam-se 65 anos do bombardeio atômico à cidade japonesa de Hiroshima, ocorrido ao amanhecer daquele outro dia 06 agosto. A lembrança deste ataque, percebido talvez como um dos momentos mais desumanos da nossa História, motivou-nos a divulgar a história de Irena Sendler, que nos mostra ser possível manter viva a essência humana, mesmo em meio a situações desumanas.

"Sucede com frequência que os espíritos mais mesquinhos são os mais arrogantes e soberbos, assim como os espíritos mais generosos são os mais modestos e humildes."
René Descartes

Adolf Hitler iniciou relativamente cedo sua jornada rumo ao poder. Austríaco de nascimento, partiu aos 19 anos de idade de sua cidade natal, Braunau Am Inn, rumo à Viena, capital do império e centro cultural da Europa, tendo por objetivo dedicar-se às artes. Apesar de possuir um razoável talento para a pintura, Hitler seria seguidamente frustrado em suas tentativas de ser admitido na Academia de Artes de Viena, afastando de si aquela que talvez tenha sido a primeira das várias oportunidades desperdiçadas, de que a sua vida, e por consequência a de milhões de outras pessoas, tomasse caminhos completamente diferentes. Mas o destino assim não o quis e, através de seus inusitados caprichos, faria com que Hitler, que resolvera fixar residência em Viena, viesse a conhecer Karl Lueger (1844 – 1910), o prefeito da cidade e líder do partido social-cristão. Reconhecido por seu anti-semitismo e por defender políticas racistas contra todas as minorias de língua não alemã do Império Austro-Húngaro, Karl Lueger teria um papel importante na formação da personalidade de Hitler, tornando-se uma fonte de inspiração e influência que o levaria a perceber e se utilizar do poder da oratória, além de convencer-se das vantagens de uma política anti-semita.

Dez anos após chegar a Viena, decepcionado pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, Hitler resolveria dar uma guinada em sua vida, conforme relato do professor de história e escritor húngaro John Lukacs (1924 - ):

"...Ele (Hitler) era um soldado ferido, sozinho em um hospital, quando soube, em novembro de 1918, da notícia da derrota e queda do Segundo Reich alemão. Então: "Decidi tornar-me um político." Assim ele concluiu a primeira, e autobiográfica, parte de Mein Kampf. Ele reafirmou isso, incluindo-o num longo discurso, relativamente desconhecido mas muito impressionante, aos oficiais alemães em maio de 1944: "Quando, no ano de 1918, decidi tornar-me um político, isso significou a total transformação de toda a minha vida." (238)

Assim, sonhando com a união da Áustria e da Alemanha desde a sua juventude, Hitler chegou ao poder, quinze anos depois de sua decisão de tornar-se um político, em 30 de janeiro de 1933. Ao ser nomeado chanceler, selou o fim da República de Weimar, uma democracia parlamentarista estabelecida na Alemanha após o término da Primeira Guerra Mundial, iniciando o domínio do partido nazista e a criação do Terceiro Reich. Uma vez no poder, e decididos a manterem-se assim, os nacional-socialistas perseguiram e eliminaram toda a oposição, consolidando-se como um Estado de partido único. Com o controle total da Alemanha em suas mãos, reintroduziu o serviço militar obrigatório em 1935 e, no ano seguinte, partiu para executar seu plano de ação para a criação da Grande Alemanha. 

Algumas referências encontradas na Enciclopédia do Holocausto, do Museu Memorial do Holocausto, em Washington D.C., podem nos fornecer uma visão da política interna nazista, implantada logo após a chegada de Hitler ao poder: 

"...a Alemanha nazista (também chamada de Terceiro Reich) rapidamente tornou-se um regime no qual os alemães não possuíam direitos básicos garantidos. Após um incêndio suspeito no Reichstag, o parlamento alemão, em 28 de fevereiro de 1933, o governo criou um decreto que suspendia os direitos civis constitucionais e declarou estado de emergência, durante o qual os decretos governamentais podiam ser executados sem aprovação parlamentar.  

Nos primeiros meses da chancelaria de Hitler, os nazistas instituíram uma política de "coordenação"—o alinhamento dos indivíduos e instituições com os objetivos nazistas. A cultura, a economia, a educação e as leis passaram ao controle nazista. O regime nazista também tentou "coordenar" as igrejas alemãs e, apesar de não obter sucesso total ganhou apoio da maioria dos clérigos católicos e protestantes.

Uma ampla campanha de propaganda foi levada a efeito para disseminar os objetivos e ideais do regime. Com a morte do presidente alemão Paul von Hindenburg em agosto de 1934, Hitler assumiu os poderes da presidência. O exército fez a ele um juramento de lealdade pessoal. A ditadura de Hitler baseava-se em suas posições como Presidente do Reich (chefe de estado), Chanceler do Reich (chefe de governo), e Führer (chefe do Partido Nazista). Segundo o "princípio Führer", Hitler colocava-se fora do estado de direito e passou a determinar as questões políticas.

Hitler tinha a última palavra tanto na legislação nacional quanto na política externa alemã. Esta última era guiada pela crença racista de que a Alemanha era biologicamente destinada a expandir-se para o leste europeu por meio de força militar, e de que uma população alemã, maior e racialmente superior, deveria ter domínio permanente sob o leste europeu e a União Soviética. Nesta crença as mulheres exerciam um papel muito importante como reprodutoras. A política populacional agressiva do Terceiro Reich encorajava as mulheres "racialmente puras" a darem à luz ao maior número possível de crianças "arianas"." (280)

Apesar de todos os horrores perpetrados durante a Segunda Guerra Mundial e do sentimento generalizado de inconformidade que ainda se faz presente nos dias atuais, é de suma importância, para que não se cometa graves injustiças, que se reconheça, e não se cobre de um povo inteiro, a responsabilidade pelas atrocidades cometidas por seu ditador. Hitler, inegavelmente um mestre da psicologia humana, era senhor de habilidades especiais que lhe rendiam uma fidelidade devocional de suas tropas e oficiais, além de possuir um dom de oratória capaz de deixar multidões em transe durante seus discursos. Porém, uma parte significativa do povo alemão não se deixava seduzir pelas palavras do Führer ou compartilhava dos ideais do nazismo. Em muitos casos, eram frontalmente contra as idéias e métodos utilizados pelos comandantes do Terceiro Reich, o que os colocava em um grupo de risco no qual ser flagrado demonstrando tais inclinações poderia significar a própria morte e a de seus familiares. Ainda assim, apesar deste elevado risco, muitos heróis anônimos decidiram agir contra a ditadura nazista, facilitando a obtenção de informações pelos aliados, sabotando os esforços de guerra da Alemanha ou contribuindo diretamente para salvar um grande número de pessoas dos campos de extermínio.
O escritor Nassim Taleb nos remete à importância de se corporificar as idéias através de exemplos reais, conforme o seu pensamento transcrito a seguir, e que entendemos ser oportuno aplicá-lo neste momento:

"Metáforas e histórias são muito mais potentes do que idéias (infelizmente); elas também são mais fáceis de se lembrar e mais divertidas de se ler. Idéias vêm e vão, histórias ficam." (310)

Assim, em sintonia com a avaliação de Taleb, resolvemos propagar uma história que tem circulado recentemente pela internet e nos foi repassada pelo amigo e jornalista carioca Carlos Alberto Teixeira. Trata-se de Irena Sendler (1910- 2008), uma mulher polonesa e católica, responsável por salvar milhares de crianças judias dos horrores do holocausto. A seguir relatamos tal história, mostrando ser possível manter viva a essência humana, mesmo em meio a situações desumanas:

Irena Sendler, uma senhora humanitarista de 98 anos, faleceu faz pouco tempo. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, como funcionária do Departamento de Bem-Estar Social, na Polônia, Irena conseguiu uma autorização, em de dezembro de 1942, para trabalhar no Gueto de Varsóvia como inspetora sanitarista, verificando possíveis sinais de contaminação por tifo, algo que os nazistas temiam que pusesse se espalhar para além dos portões do gueto. Porém, os seus planos iam bem além de verificar as condições sanitárias e examinar possíveis infectados.

Irena organizou a retirada de crianças judias, carregando-as, enquanto entrava e saía do gueto, em caixas, malas e carrinhos, que os soldados alemães queriam manter distância. Durante um surto de febre tifóide, a Sra. Sendler contrabandeava bebês e crianças pequenas para fora do gueto, em ambulâncias e carros elétricos, disfarçando-as por vezes como pacotes.

Enquanto lhe foi possível manter o trabalho no gueto, Irena conseguiu retirar e salvar cerca de 2.500 crianças judias, além de criar, com suas ajudantes, mais de 3.000 documentos falsos para auxiliar as famílias judias a escaparem para lugares fora do alcance do nazismo.

Por fim, em 1943, Irena Sendler foi capturada pela Gestapo, brutalmente torturada e condenada à morte. Durante o caminho para a execução, foi salva por um membro de sua organização que subornou os guardas alemães responsáveis por terminarem aquela tarefa. Os executores, convictos de estarem concedendo apenas um breve adiamento de sua morte, largaram-na na mata, inconsciente e com braços e pernas quebrados. 

A missão de Irena, porém, não havia terminado. Listada como executada e mantendo-se na clandestinidade, conseguiu se recuperar e continuar o seu trabalho de ajuda às crianças judias por todo o restante da guerra. 

Após o término do conflito, Irena esforçou-se para localizar as crianças e devolvê-las a seus pais. Ela havia mantido um registro detalhado com as identidades e laços familiares de todas as pessoas que conseguira retirar do Gueto, guardando estas informações em frascos de vidro enterrados próximos a uma certa árvore. Entretanto, a maioria daqueles pais haviam sido mortos no campo de extermínio de Treblinka ou desaparecido de alguma outra forma. Para aquelas crianças que tinham perdido os pais, Irena ajudou a encontrar casas de acolhimento ou famílias adotivas.

Em 2007, Irena Sendler recebeu uma indicação para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz... mas não chegou a ser selecionada. Quem o recebeu foi o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore (1948 - ), por seus estudos sobre as alterações climáticas e militância em defesa do meio-ambiente. Irena não passou à História como uma ganhadora do Nobel da Paz, mas, parafraseando Nietzsche, toda a humanidade ganhou com o seu exemplo, demasiado humano. (307)

Obs.: O texto publicado acima é um extrato do capítulo "A Segunda Guerra Mundial - Antecedentes", já postado anteriormente.

Arquivo pdf com o texto completo para consulta e download:

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